(matéria publicada na Folha Espírita de dezembro de 2006)
Dra. Cristiane Ribeiro Assis, ginecologista e obstetra, com especialização em Medicina Fetal, membro da AME-SP
Durante os nove meses de gestação, as mudanças físicas e emocionais que ocorrem com a mulher são tão evidentes, que acabamos deixando de lado um importante personagem desta história: o homem. Sua participação não se restringe à concepção. Além das preocupações de ordem material, passa por um delicado processo onde a figura de “filho” deverá dar lugar a de “pai”.
Inúmeros são seus questionamentos e suas incertezas, próprios da adaptação a uma nova situação. Porém, acreditando que poderiam ser interpretados como um sinal de fraqueza, muitos acabavam reprimindo tais sentimentos. Buscavam, a qualquer custo, manter a falsa imagem de “fortes protetores” da família.
Felizmente, nas últimas décadas, o papel do pai dentro do contexto familiar sofreu algumas alterações. Como as mulheres passaram a compartilhar com seus parceiros a tarefa de “prover” recursos para o lar, os homens sentiram-se mais a vontade para dividirem com elas o papel de cuidadores e educadores de seus filhos. Encontraram, também, maior facilidade para falar sobre o que sentiam.
Em agosto deste ano, a revista Crescer (edição 153) publicou relatos de homens que contaram o que sentiram durante a gravidez de suas parceiras. Enjôo, sonolência, desejo por determinados alimentos e ganho de peso foram algumas das queixas apresentadas. O interessante é que tais sintomas costumam ser atribuídos apenas às gestantes, cuja explicação estava nas alterações hormonais ocasionadas pela presença do bebê em seu organismo.
Já em 1960, tais sintomas no homem forem descritos como componentes da Síndrome de Couvade. Acreditava-se que sua causa estava restrita a fatores emocionais desses pais, possuindo apenas um aspecto psicológico.
Porém, o aumento do número de casos relatados fez com que alguns cientistas se interessassem pelo assunto. Estudo das universidades Memorial e Queens, no Canadá, coordenado pelas pesquisadoras Anne Storey e Katherine Wynne-Edwards, mostrou que a maioria dos futuros pais sofre modificações em seus níveis hormonais. Ao monitorarem essas substâncias nos homens, as cientistas constataram que em determinadas fases da gravidez, eles tinham um aumento de até 20% nos níveis de prolactina (responsável pela amamentação e em alguns pássaros e mamíferos está ligada ao comportamento paternal). Aqueles que relatavam sentir os mesmos sintomas da mulher eram os que apresentavam a maior quantidade desse hormônio. Já os níveis de testosterona, abundante no sexo masculino, diminuíram tanto na gravidez quanto nas primeiras semanas de vida do bebê. Segundo especialistas, sua queda diminuiria a agressividade, favorecendo a cooperação entre pais e mães.
Mas se durante a gravidez não existe contato físico direto entre os pais e os bebês, qual seria a explicação para tais alterações na maioria dos casos, independente de apresentarem ou não sintomas? E por que em alguns essas modificações, assim como nas gestantes, eram mais evidentes do que em outros?
Dentro do paradigma materialista, a única explicação encontrada foi atribuir aos feromônios a origem do que se observava. Acredita-se, assim, que essa substância química, exalada pelo corpo da mulher, desencadearia as oscilações hormonais nos homens. Quanto mais próximos das mulheres, maior a probabilidade de o homem experimentar os sintomas de gravidez. Entretanto, tal justificativa está longe de explicar o fenômeno e todas as suas nuances. Além disso, por que esse quadro não é observado nas demais pessoas envolvidas com as gestantes?
Compreendendo o indivíduo como o produto da interação corpo-mente-espírito, encontramos respostas mais plausíveis. Em Entre a Terra e o Céu, André Luiz relata que as trocas entre a gestante e o bebê não se restringem ao campo material. Existe um intercâmbio constante de sensações diversas entre esses dois espíritos. Explica que a ciência do porvir será capaz de auxiliar as gestantes nos quadros de náuseas intensas, quando compreender que apesar das características de ordem fisiológicas, a origem de tais desequilíbrios é de essência espiritual. Segundo ele, o organismo materno, absorvendo as emanações do espírito reencarnante, funciona como um exaustor de fluidos em desintegração. Estes nem sempre são aprazíveis ou facilmente suportáveis por ela, encontrando-se aí, a origem dos enjôos.
Todavia, não podemos esquecer que mais um espírito tem significativo compromisso nesse processo reencarnatório: o pai. É certo que as trocas entre a mãe e o espírito reencarnante são mais intensas, uma vez que seus corpos estão diretamente ligados. Porém, como nos ensina Kardec em O Livro dos Espíritos, a comunicação entre os espíritos encarnados ou não encarnados, se estabelece pelo contato dos fluidos que compõem seus perispíritos. Assim, o pai, em menor grau, também está sujeito a essas influências.
E uma vez que sabemos ser a produção hormonal uma das formas de atuação do espírito sobre o corpo, fica mais fácil compreender os resultados encontrados nos laboratórios. Tanto para os homens, quanto para as mulheres.
Assim, buscando o alívio de tais sintomas, devemos associar à terapêutica médica tradicional fatores que atuem diretamente na causa do problema. Para isso, dispomos não só das leituras edificantes e da prática do Evangelho no Lar, como também da fluidoterapia e do reequilíbrio magnético através de passes. Eles certamente beneficiarão todos os envolvidos. O futuro pai também deve sentir-se a vontade para compartilhar com sua parceira suas emoções. Tranqüilizando suas mentes, juntos se prepararão para as oportunidades de aprendizado que virão
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